Alguns veem isso como uma ameaça. Outros têm grandes esperanças em relação a ela. A Rota da Seda é o maior projeto de política externa da China. Ela deve garantir que os recursos de toda a Eurásia cheguem à China e que os produtos acabados "Made in China" possam ser facilmente vendidos em toda a Ásia e, especialmente, na Europa.

O sistema da China há muito tempo se tornou uma síntese peculiar de comunismo, capitalismo de estado e economia de livre mercado. O Comitê Central do Partido Comunista da China, o governo em Pequim e, à frente dele, o "Líder Supremo" Xi Jinping determinam onde o ar do livre mercado pode soprar e onde o Estado intervém para regular. Tudo segue a premissa de requisitos práticos e de acordo com o lema de Deng Xiaoping: atravesse o rio sentindo cada pedra com seu pé. Lançam-se balões de ensaio, como aconteceu com as zonas de livre comércio no litoral, e depois segue-se o próximo passo.

O próprio Xi Jinping é considerado o iniciador do mais recente, mais ambicioso e maior projeto: a Nova Rota da Seda. O objetivo é garantir a supremacia da China na Ásia e, de fato, em toda a Eurásia. Assim, a China está cruzando os conceitos geopolíticos mais importantes dos britânicos e americanos.

Em seu tratado de 1904, "The Geographical Pivot of History" (O pivô geográfico da história), o geógrafo britânico Halford Mackinder se referiu ao suposto perigo de que o surgimento de uma potência eurasiática de grande escala pudesse isolar a Grã-Bretanha. Naquela época, os britânicos ainda tinham a lembrança do Bloqueio Continental de Napoleão em seus ossos. Uma coalescência político-econômica da Eurásia por meio de rotas terrestres marginalizaria o papel britânico como potência comercial marítima e colocaria em risco o "Império". Preocupações semelhantes também levaram ao conflito de interesses entre a Grã-Bretanha e a Rússia na Ásia no século XIX.

Após a Segunda Guerra Mundial, a liderança do mundo anglo-saxão recaiu sobre os Estados Unidos da América. Durante a fase inicial da Guerra Fria, quando a União Soviética e a República Popular da China ainda se consideravam aliadas, uma aliança eurasiática surgiu como adversária da aliança naval transatlântica da OTAN.

Atualmente, essa aliança eurasiática se renovou. Por um lado, a Rússia e a China, Vladimir Putin e Xi Jinping, voltaram a se aproximar política e economicamente. Por outro lado, há projetos como a "Organização de Cooperação de Xangai (SCO)", que está se tornando cada vez mais uma quase aliança militar devido às manobras conjuntas.

A China e a Rússia estão integrando os estados da Ásia Central em um conceito que pretende unir a Europa e o Leste Asiático. Nesse processo, a China controla cada vez mais as rotas marítimas que ligam o Leste Asiático pelo Estreito de Malaca, o Oceano Índico, o Mar Vermelho e o Mediterrâneo. Em terra, as estradas e ferrovias estão sendo expandidas. Na Europa, os chineses compraram vários portos.

Para a geoestratégia anglo-saxônica, isso significa que os antigos temores estão se tornando realidade. Um sistema econômico eurasiano está de fato crescendo junto. E os chineses o estão dirigindo. Os europeus são participantes mais passivos. Algo está acontecendo com eles que eles ainda não entendem. Mas, mais cedo ou mais tarde, eles estarão tão envolvidos que não será mais possível se desligar. Os chineses já controlam muitos portos, por exemplo, o Piraeus, perto de Atenas. E já hoje o porto de contêineres de Duisburg é dominado por trens e barcaças que recarregam mercadorias da China. Esse é o ponto final da Rota da Seda, por assim dizer.

A Rota da Seda tem milhares de anos

A história da Rota da Seda remonta a milhares de anos. Mas, diferentemente de hoje, não havia poder governamental naquela época. A Rota da Seda era uma rede que conectava a Europa e a região do Mediterrâneo com o leste da Ásia por terra ao longo de várias rotas.

Até mesmo na Roma antiga havia produtos "Made in China". Os romanos sabiam apenas que a China era um país do Extremo Oriente. Mas eles não tinham uma ideia mais precisa sobre isso. As mercadorias não eram entregues por comerciantes individuais que poderiam ter informado o país de origem, mas por meio de uma complexa cadeia de intermediários.

No espaço intermediário, na vastidão da Ásia Central, surgiram várias entidades estatais ao longo dos séculos que se beneficiaram do comércio por meio das rotas da Rota da Seda. Cidades como Samarkand ou Tashkent floresceram devido ao comércio entre o Ocidente e o Oriente.

Com as novas rotas comerciais marítimas dos europeus, a Rota da Seda perdeu importância a partir do século XVI. Com seu desaparecimento, a Ásia Central ficou empobrecida.

Isso mudará em breve. A iniciativa chinesa "Belt and Road Initiative" reviverá as antigas rotas terrestres. Os chineses explorarão essas tendências para expandir sua influência na Eurásia. Isso inevitavelmente colocará os americanos em alerta. Donald Trump e Steve Bannon há muito tempo analisam e abordam esse perigo geopolítico. A política agressiva de Trump contra a China também encontra uma causa aqui. Se a China controlar e dominar a Eurásia, os EUA serão empurrados para a periferia. Mas os americanos tentarão não deixar que isso aconteça.